Projeto Camisa 10

Projeto Camisa 10

domingo, 6 de outubro de 2013

Um pouco da História do PAVOC que foi resgatado pelo projeto camisa 10.

 
A trilogia de Dante Mendonça e Sandro Moser, completa, aqui no Blog da Baixada:

Em parceria com o jornalista Sandro Moser (autor da reportagem nunca publicada), vamos contar neste modesto espaço o sonho do empresário Aryon Cornelsen, o pesadelo de nome de PAVOC (Parque Aquático Vila Olímpica Cornelsen).

É um Atletiba familiar, que teve seu início com a profecia do jornalista e ex-técnico da seleção brasileira João Saldanha:

- O Atlético, facilmente, está entre os 10 mais.

Na profecia escrita no Jornal do Brasil em setembro de 1987, Saldanha admitia com algum orgulho que o Atlético fora o primeiro time de seu coração. A família Saldanha escolheu a calma Curitiba para se refugiar nos conturbados anos 20. O pai de João foi um dos mais importantes quadros maragatos da revolução federalista e, perseguido, saiu com a família pelo país.

Por ter morado menino na região conhecida como "baixada da água verde", Saldanha deve ter lembrado destes tempos ao arriscar o destemido vaticínio.

Tamanho otimismo se justificava. O cronista, "Cavalheiro da Boca Maldita", fora recebido no aeroporto em uma manhã ensolarada de primavera com todas as honras por um comitê de cavaleiros atleticanos. O motivo da viagem era uma visita à recém-inaugurada nova sede social do Clube Atlético Paranaense. Uma sede completa, com campos de treino, piscinas e tudo o que mandava o figurino.

Desde o final da 2.ª Guerra Mundial quem vem de avião a Curitiba desembarca no Aeroporto Afonso Pena. Curiosamente, a antiga estrada que conduzia ao campo de aviação de São José (onde se localizava a tal nova sede do atlético), Saldanha conhecia bem, pois também morara naquela região. A área pertencente ao atual aeroporto se constitui, em parte, de terrenos da Colônia Afonso Pena, ali implantada no início do século XX em homenagem ao sexto Presidente da República. Nessa ocasião, o governo federal desapropriou a área de uma fazenda, e dividiu-a em pequenas chácaras e ali assentou uma colônia de imigrantes.

Entre as inúmeras famílias beneficiadas estava a família Cornelsen. O avô Amaro, primeiro do clã a chegar ao Brasil já possuía um armazém de "secos e molhados" no centro de Curitiba (na região da atual Praça Osório). Ao seu filho Emilio coube o recebimento da escritura do lote destinado aos Cornelsen na beira do Rio Iguaçu.

Acontece que Emilio não teve pressa em ocupar o novo terreno e lá plantar mandioca, batata-doce e criar galinhas como a maioria de seus vizinhos. Foi mais forte a paixão pelo Coritiba Footbal Club, a camisa dos jovens imigrantes europeus. No Coritiba ele foi jogador, técnico e depois dirigente. E fez questão que os três filhos homens de sua prole ali se iniciassem no futebol.

Alcyr e Aryon, os dois mais velhos, jogaram e foram campeões no Coritiba Foot Ball Club. Alcyr pendurou as chuteiras ao abraçar a carreira de médico e passou a ser apenas um torcedor. Já Aryon permaneceu sempre ligado ao futebol, ao mesmo tempo em que mantinha famoso escritório de advocacia na cidade, fazendo "de tudo um pouco" no Clube até chegar a presidência em 1958. Terceiro irmão, o arquiteto Airton (Lolô) se desgarrou por conta de uma briga com o major Couto Pereira num baile de Carnaval.

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Dos três irmãos Cornelsen (Alcyr, Aryon e Airton), Aryon sempre permaneceu ligado ao futebol, ao mesmo tempo em que mantinha famoso escritório de advocacia na cidade, fazendo “de tudo um pouco” no Alto da Glória. Quando chegou à presidência do Coritiba, em 1958, deu início ao plano de construção do novo estádio alviverde. Anos mais tarde, procurando viabilizar a onerosa obra, criou uma espécie de loteria privada. Chamada de Cori-Ação, causou furor em todo o Estado. Funcionava no clássico esquema dos bingos, com sorteios auditados e transmitidos pelo rádio, e pagava prêmios vultosos. A loteria foi o canal para a transformação do acanhado Estádio Belfort Duarte no “gigante de concreto armado” do Alto da Glória.

No ano de 1963, o patriarca Emilio Cornelsen faleceu, deixando a área em São José dos Pinhais de herança aos filhos. O empreendedor Aryon comprou a parte dos irmãos e alguns lotes vizinhos. No final do ano era proprietário de uma área de 400 mil metros quadrados.

Um ano depois, solicitou a seu irmão Airton, o “Lolô”, o projeto da primeira Vila Olímpica brasileira em forma de clube social. Lolô Cornelsen, desgarrado dos coxas, foi ser campeão de 1945 pelo ex-rival Atlético, enquanto arrebanhava fama internacional como arquiteto e urbanista.

O complexo seria construído no terreno de 16 alqueires em São José e, pela ideia de seu criador, faria parte da estrutura esportiva do Coritiba Football Club. A vila comportaria cinco campos de futebol. Um deles, com grama importada do Uruguai e drenagem, serviria para treinamentos dos profissionais, com duas arquibancadas em volta do gramado, uma pista de atletismo e caixas para salto. Tudo de acordo com as normas exigidas pelo comitê do esporte olímpico.

Canchas de basquete, “stand” para tiro ao alvo, arco e flecha, futebol de salão, vôlei, tênis, minigolfe, entre outros esportes, complementariam o conjunto da Vila Olímpica.

Um dos objetivos do projeto era fazer com que o parque esportivo se tornasse autossustentável com a construção de um hotel de categoria internacional (60 apartamentos de luxo e 50 suítes). Posteriormente, novos desejos foram incrementados ao projeto: a construção de um restaurante de 70 metros de altura, tendo um piso giratório e um cinema ao ar livre para 1.300 espectadores.

A partir de 1966, o PAVOC (Parque Aquático Vila Olímpica Cornelsen) se tornou uma referência curitibana. Muito por conta da ousadia do projeto arquitetônico de Lolô, que entre outras realizações é responsável pelo autódromo do Estoril, em Portugal.

Esta era a Vila Olímpica que tanto impressionou João Saldanha em setembro de 1987. Um pouco mais de dez anos atrás ela havia mudado de mãos, passando do mais abnegado realizador coritibano ao patrimônio do arquirrival Atlético Paranaense numa ação rocambolesca, digna da eterna “guerra fria” entre coxas e atleticanos.

Aryon Cornelsen conta que “fez de tudo” para que o Coritiba recebesse o Clube Olímpico, chegando até a planejar a venda dos carnês e das cotas para associados. De seu apartamento no Alto da Glória, repleto de fotos dos tempos gloriosos, relembrou para o repórter Sandro Moser, com um misto de saudade e mágoa, aquela situação:

- Eram 100 metros na Avenida das Torres. Ofereci ao Coritiba 20.000 metros quadrados de graça, mais as mensalidades dos sócios e todo o parque construído, em troca da venda dos 50 mil primeiros títulos patrimoniais.

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O Coritiba não quis bancar o PAVOC (Parque Aquático Vila Olímpica Cornelsen). Os conselheiros da situação achavam que o Aryon ia ganhar muito dinheiro. E de fato ganhou. No tempo das campanhas e loterias, Aryon chegou a ter um helicóptero particular “igual ao do filme do Roberto Carlos”. Entretanto, a construção e manutenção do PAVOC, sem a parceria do clube, acabou sendo a ruína do empresário.

Com um elefante branco faminto em mãos, não restou ao visionário (antes oferecera ao Clube Concórdia, que negou) outra alternativa: levar a mesma proposta ao Atlético Paranaense. O Atlético topou na hora. O contrato firmado com o Atlético era um pouco diferente daquele negado pelo Coritiba, contou o falecido Aryon Cornelsen ao repórter Sandro Moser: - Ao Atlético eu não ofereci de graça, queria os 50 mil títulos e as mensalidades. Então o Atlético impôs uma cláusula, 10 anos de prazo, sendo o negócio bem ou mal sucedido...

Esta cláusula foi a ruína de Aryon. A necessidade fez o experiente advogado aceitar as imposições leoninas, acreditando na boa fé dos diretores do Atlético, e nas boas vendas dos títulos durante o primeiro verão.

Ocorre que o teor do contrato vazou, chegou como um furacão aos ouvidos de rubro-negros oportunistas que resolveram sabotar o projeto: “Quem comprou não pague, quem não comprou não compre, pois o parque já é nosso”.

E durante nove anos as vendas congelaram. Aryon não conseguiu arrecadar o necessário para viabilizar o projeto e, terminado o tempo de contrato, o complexo acabou indo inteiramente de graça para a Baixada da Água Verde.

O Atlético Paranaense, de sua parte nunca soube administrar o espaço conseguido da mão beijada do velho inimigo. Do projeto inicial, restou a intenção de criar um Centro de Treinamento para a formação de jogadores, muito antes do futebol profissional virar este negócio milionário.

O acordo do Atlético com Aryon Cornelsen datava de 1973. A posse atleticana fez-se em 83. O patrimônio era pouco usado. Além dos pedalinhos para casais suburbanos apaixonados, servia mais para impressionar investidores e visitantes como João Saldanha, na tentativa de melhorar a imagem do clube.

Imagem que foi gradativamente se desgastando, até que em 1995, Mário Celso Petraglia promoveu uma verdadeira revolução na estrutura e na administração atleticana. Sempre muito íntimo do poder, Petraglia, já de olho no terreno do antigo hotel Estância João XXIII (no bairro do Umbará), e com o ambicioso projeto da Arena na gaveta, aproveitou-se das grandes inundações acontecidas em Curitiba no ano de 96 e propôs uma composição com o governo estadual. O Estado desapropriaria a área do PAVOC para abertura de um canal extravasor do rio Iguaçu, pagando aos proprietários a devida indenização.

Não foi a única desapropriação da área, mais de cem decretos foram assinados em maio de 1996 pelo governador em exercício, deputado (e ex-presidente rubro-negro) Aníbal Khury. O valor da indenização é que foi efetivamente maior do que os demais. A quantia causou, à época, indignação em setores da imprensa e resultou num processo (arquivado) de crime de responsabilidade contra Khury e o governador Jaime Lerner. Com a soma arrecadada o Atlético Paranaense pode enfim levar a cabo seus planos de reestruturação e crescimento. Viabilizou a construção da Arena e adquiriu a terreno e instalações do hotel, onde instalou o Centro de Treinamento Alfredo Gottardi.

Ao final de todos estes anos, a profecia de João Saldanha se mostrou certeira. O PAVOC, dado de presente pelo Coritiba, foi a alavanca que impulsionou a Arena a ser indicada como o estádio paranaense da Copa do Mundo de 2014. Assim mesmo, pelas linhas tortas por onde passam a política e o esporte paranaenses.




 

Um comentário:

  1. Quem mandou se meter com gente picareta? É incrível como tudo envolve pilantragem nesse clube.

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