Projeto Camisa 10

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A Origem da Violência. Breve resumo.

"A violência no futebol não é um fenômeno intrínseco ao esporte, muito embora não sejam raros os exemplos de manifestações violentas em partidas nos campeonatos ao redor do globo.Hoje em dia, por vezes, pode ser comum haver brigas e discussoes em jogos de futebol principalmente por parte da torcida"
 

                 Essas mesmas torcidas praticam numerosos atos de vandalismo tendo como principal alvo a torcida rival. Apesar dos números assustadores esses casos são muito mais frequentes quando os jogos acontecem entre equipes da mesma cidade, principalmente em partidas de equipes das capitais estaduais.
                De entre as principais causas de brigas, estão, principalmente, a exacerbação das rivalidades entre as camadas menos favorecidas (formação de gangues nos bairros e aglomerados) com roupagem futebolística, e a cultura do medo entre essas mesmas camadas, que leva a uma postura intimidatória.
                  O clássico sempre chama uma atenção a mais e há vários casos de mortos em regiões mais distantes. Ultimamente, o futsal tem sido o maior alvo desses encontros, já que a polícia não dá as devidas atenções para o encontro dessas torcidas nesse esporte.      Dados comprovam que 50% das brigas provocadas por torcidas organizadas são dos times do Estados de São Paulo.

Dados

                 De acordo com uma pesquisa realizada em 1994, o promotor de Justiça Fernando Capez apurou que 15% dos integrantes das torcidas organizadas tinham antecedentes criminais.1 Segundo o sociólogo Maurício Murad, a porcentagem de torcedores violentos é de 5% a 7%2 e é difícil calcular quanto são os "brigões" dentro das torcidas organizadas, pois o Governo Federal não tem os números de torcedores organizados no país


José Eduardo Costa de Oliveira

Maria das Graças Carvalho Ferriani



(Brasil)
 
 
A violência, enquanto fenômeno do campo esportivo pode ser considerada como um processo social-cultural complexo, no qual intervêm fatores estruturais, ideológicos, financeiros e culturais. Em vistas a intenção do presente em discutir e analisar a problemática da violência e suas interfaces com o esporte, partindo de uma perspectiva histórica deste fenômeno, o presente ensaio apresenta duas perspectivas para aqui tratar do tema. A primeira, relacionada às origens da violência no Brasil e suas relações com o poder nas sociedades; na segunda, discutindo os rumos tomados pela violência esportiva na atualidade. Numa perspectiva de uma análise conclusiva, o presente ensaio afirma que se faz de fundamental importância empreender ações que possam gerar subsídios para novas análises e aprofundamento da temática, pois, observa-se o fato da violência que se manifesta no esporte, no interior das arenas desportivas e no entorno delas, perfazer uma reprodução da violência instaurada nas sociedades e que foi construída ao longo de décadas de subserviência da população ao poder do Estado. Portanto, tem relações diretas com o poder e é fruto da competição exacerbada e fomentada pela sociedade capitalista, que vê na competição entre os pares a única forma de aumentar a produção do sistema.
 
 
 
 
Em razão das várias tentativas científicas de se explicá-la enquanto fenômeno social e esportivo encontra-se diferentes pontos de vista. A exemplo do que relata o olhar da – antropologia - que através de suas lentes afirma que ela se revela de diversas formas, como no estresse, no traumatismo nas frustrações, tornando difícil uma teoria unitária (DOLLARD et. al, 1961). Pois, é segundo esta mesma dimensão do fenômeno humano, uma das complexidades inerentes do sujeito.
Numa outra corrente – a biológica - definida por Lorenz (1969), considera a violência como uma qualidade inata e estuda os fatores reacionais e os fatores inibitórios do fenômeno.
Nessa mesma esteira, a – neurofisiologia - trazida por Waiselfiz (1998) se vale dos conceitos da interação, e, conseqüentemente da reação aos estímulos do ambiente, constituindo-se de agressões. Pois as tensões geradas a partir do meio (interações interpessoais, jogo ou as competições) são também chamadas de estresse.
Já na corrente – sociológica – ótica do presente ensaio, sua gênese se explica na frustração que desencadeia a agressão (Zaluar, 1991). Nessa linha, a violência também pode ser definida através da teoria da aprendizagem: pais violentos, filhos violentos. Portanto, conclui-se que: sociedade violenta, esporte violento.
A abordagem sociológica da questão também pode ser considerada em uma díade – as abordagens empíricas e a teoria social.
Na primeira, os pesquisadores a relacionam ao número de acontecimentos violentos, a partir de indicadores socioeconômicos, mensurando então a intensidade destes, considerando sua pluralidade de manifestações (esportivas ou sociais/culturais), sendo algumas delas o terrorismo, as guerras civis, as repressões políticas, as religiosas, as esportivas e etc.
Na segunda, incumbe-se da tarefa de compreender os comportamentos violentos vinculados a algum outro fenômeno ou ambiente social (ao esporte, a escola, a família, por exemplo), encarando estes comportamentos enquanto fenômeno social e considerando a sua função no espaço/situação.
 
 
 
A violência no cenário brasileiro
No Brasil, a violência é responsável pela principal causa de mortalidade na faixa entre 05 a 49 anos de idade, sendo que, de 15 a 29, ela atinge o percentual alarmante de 64.4% das mortes entre os jovens, conferindo inegavelmente um caráter de problema, não só esportivo, educacional ou policial, mas sim, de saúde pública (ABRAMOVAY, 2003).
Assim, dificilmente esse fenômeno não apresentará um vínculo estreito com o poder, sendo possível também estabelecer várias outras conexões, assim como perceber a dicotomia que ela comporta.
Na historia do país, quer seja no âmbito desportivo ou social, atos extremamente violentos nas ruas, nos estádios, nas escolas (e demais espaços coletivos), que muitas vezes ocasionaram a coação de pessoas foram encabeçados pelo Estado ou tiveram o seu consentimento.
Para Foucault (1999), o poder significa antes de tudo um verbo, uma ação, uma relação de forças, ou seja, poder não é simplesmente algo que alguém tem ou não, o poder é uma relação constitutiva de qualquer relação social, inclusive nas relações oriundas das atividades desportivas, tanto dos praticantes, como dos torcedores.
Portanto, ao se analisar as raízes da violência no Brasil, ela dificilmente não estará associada à estrutura de poder vigente dentro da sociedade e/ou dentro dos clubes, confederações e torcidas organizadas, que também são sociedades.
Acerca desse último exemplo – as torcidas organizadas - configuram-se como a principal mola propulsora dos eventos violentos da atualidade, particularmente, quando relacionada aos episódios futebolísticos (ZALUAR, 1991).
A Exmplo daquilo que fora denominado de comportamento – hooligan. Onde ao final dos certames esportivos, uma verdadeira batalha é comumente instaurada entre as torcidas organizadas, culminando em comportamentos violentos para com os torcedores de outras equipes, bem como gerando situações de violência e depredação do patrimônio publico e privado e na agressão a outros cidadãos, que via de regra, se quer possuem vínculo com os eventos. Tudo isso, dentro e no entorno dos estádios de futebol.
Atitudes violentas são classificadas, comumente, como formas de ação, resultantes do desequilíbrio entre fortes e fracos, ou oprimidos e opressores.
Assim, não é possível analisar a violência de uma única maneira. Tomando-a como um fenômeno único, pois, sua própria pluralidade é a única indicação do politeísmo de valores, da polissemia do fato social investigado, onde o termo violência transforma-se em uma maneira cômoda de reunir tudo o que se refere à luta, ao conflito, ao controle, ao descontentamento, a rebeldia, que é a parte sombria que sempre atormenta o corpo individual, quer seja no cenário social ou no esportivo.
Uma visão abrangente da história pode fomentar que se compreenda o percurso do autoritarismo no Brasil, e, neste caso, o circuito das práticas arbitrárias deve ser analisado objetivamente, pois, o funcionamento da estrutura de dominação envolve um processo complexo, que tem como centro, o desequilíbrio social entre os fortes e os fracos e o jogo político de forças, que produz e reproduz a ordem das ruas.
Muitos governos – predominantemente no Brasil – ao longo dos tempos privilegiaram a autoridade em detrimento do consenso; concentraram o poder político em torno de poucos, deixando de lado as instituições representativas que passaram a ter um caráter meramente cerimonial, restringindo a liberdade, suprimindo as oposições ou coagindo à simulação.
Na ideologia autoritária, quer seja a social ou desportiva, a utilização da violência tornou-se necessária à manutenção da desigualdade entre os homens. A ordem, nesse conjunto de idéias ocupou lugar de destaque: a crença cega na autoridade, e, por outro lado, desprezo pelos inferiores, débeis, descordenados, menos habilidosos, menos ápitos, e os não inseridos nos padrões estéticos e socialmente aceitáveis como vítimas, portanto.
As rupturas políticas na história brasileira, praticamente não ocorrem no nível das relações sociais e pessoais. Novos governos, ao assumirem o poder praticam velhas políticas e se preocupam em edificar um imaginário popular calcado na nova ordem vigente.
Numa análise sobre o passado brasileiro social e desportivo, o período escravocrata de quase 400 anos e os quase 40 anos de período de exceção, da ditadura Vargas ao período militar, deixaram - como herança - uma cultura de autoritarismo, de corrupção e de "malandragem", que se enraizaram no imaginário popular. Em relação a esta última, e que se manifesta no esporte, quase que como suas representantes legítimas.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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