Projeto Camisa 10

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

A voz do futebol para a responsabilidade social no Brasil

A voz do futebol para a responsabilidade social no Brasil
O papel que o futebol brasileiro desempenha na transformação social do país
CLAUDIO BORGES
O Brasil é um país dominado por dois fenômenos sociais, a desigualdade e o futebol. O IBGE estima que 46% das crianças brasileiras vivem abaixo do nível da pobreza. A distribuição de renda é altamente desproporcional e as classes sociais afastadas. No movimento oposto, o futebol é o fenômeno que agrupa a população, criando uma identidade cultural para o povo brasileiro através do esporte.
“Em uma nação como o Brasil, a contribuição do esporte para a integração social é especial. O sucesso do futebol tem sido uma força para unificar suas diversas partes e unificá-los através do orgulho nacional.” (J. Lever, 1983, p.48). De acordo com a Fifa, existem no Brasil mais de 13 milhões de praticantes do futebol e, segundo pesquisa realizada pela Informídia, 81% da população acompanha o esporte através da mídia. A grande influência do futebol na vida dos brasileiros é capaz de não só unificar a população, mas mobilizá-la também, dando ao futebol significativo poder de suporte a mudanças sociais no país.
Uma solução aplicada em diversos países para tornar o futebol mais socialmente responsável é o desenvolvimento de programas educacionais acoplados ao futebol. O futebol por si próprio já é capaz de passar ensinamentos como educação moral, cooperação e trabalho em equipe. Com programas desse tipo, ele passa a influenciar também na educação escolar de seus praticantes no momento em que aulas são realizadas dentro de centros de treinamentos e escolas de futebol.
Entretanto, programas de educação escolar dentro de instalações de clubes não são a única saída para o futebol ser socialmente responsável. Um exemplo é a campanha realizada pela Federação Goiana de Futebol em 2006, quando a entidade desenvolveu um projeto para motivar doações de sangue em estádios do estado. A campanha contou com o apoio de clubes que cederam jogadores para atuarem como porta-vozes, além da distribuição de brindes aos torcedores doadores. De acordo com José Pitta, presidente da entidade, “os números dessa primeira ação foram animadores e nos mostram que estamos caminhando na direção correta. Os amantes do futebol são extremamente solidários e precisam apenas ser incentivados”.
Os jogadores profissionais no Brasil possuem grande poder de alcance da atenção da população brasileira. Muitos atletas usam sua voz e imagem para apoiar não só ações sociais esporádicas, mas também projetos consistentes. Projetos como a Aldeia das Crianças da Fifa, IDDC Dunga e Gol de Letra, constantemente usam os jogadores brasileiros como embaixadores de suas iniciativas. É importante ressaltar que esses projetos de sucesso não têm o futebol como foco, mas sim o usam como instrumento de suporte para suas iniciativas educacionais.
Em termos da participação constante e ativa de clubes de futebol em projetos sociais, a prática é dificultada devido ao grau de profissionalismo que o futebol brasileiro atualmente apresenta. O nível de interesses pessoais por trás da administração de clubes brasileiros torna difícil conseguir investimentos do setor privado para tais projetos. De acordo com Garland, Malcolm e Rowe (2000), é importante tornar projetos sociais auto-sustentáveis – ligá-los diretamente com operações que possuem dificuldade em manter seus próprios balanços positivos pode ser um equívoco.
A atual estrutura organizacional dos clubes afeta o compromisso com projetos de longo prazo, tornando difícil para os clubes expandirem seu foco além do pagamento da folha salarial e conseqüentemente tornando difícil para os clubes perceberem sua responsabilidade como cidadão corporativo.
Garland, Malcolm e Rowe (2000) argumentam que projetos sociais ligados a clubes de futebol precisam ser administrados separadamente. No Brasil, essa afirmação é não só verdadeira, mas necessária. A saída é, portanto, desenvolver parcerias e promover transformações sociais sem necessariamente estar diretamente ligado de maneira administrativa nos projetos.
Em uma nação onde o futebol é tão poderoso, tendo até sido usado para manipular e desviar a atenção da população durante o governo militar, atualmente adota um novo papel, usando seu poder para chamar atenção para os problemas sociais do país. Esse papel deve ser incorporado pela indústria do futebol brasileiro e, através de parcerias e cooperação com outros setores, trabalhar para unificar a população na direção de consciência social e melhoria de vida dos brasileiros.
BIBLIOGRAFIA
FIFA. (2008). ‘Brazil: country information’. Disponível em: http://www.fifa.com/associations/association=bra/countryInfo.html

GARLAND, J.; MALCOLM, D.; ROWE, M. (2000). ‘The Future of Football’. Frank Cass. Londres. 2000. p108-121.

IBGE. (2008). ‘Indicadores Sociais 2008’. Disponível em:
LEVER, J. (1983). ‘Soccer Madness: Brazil’s Passion for the World’s Most Popular Sport’. Waveland. Illonois, USA. 1983. pp.48

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